É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter ca dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de
infinito!
Florbela Espanca
21 DE MARÇO - DIA MUNDIAL DA POESIA
A data
foi criada na 30ª Conferência Geral da UNESCO em 16 de novembro de 1999 com o propósito de promover a
leitura, escrita, publicação e ensino da poesia. A data
visa a importância da reflexão sobre o poder da linguagem e do desenvolvimento
das habilidades criativas de cada pessoa.
Engana-se quem acredita que a poesia é usada apenas para expressar
sentimentos e emoções, num texto que se divide em
estrofes e versos.
No poema, as palavras combinam-se com o intuito de
sugerir formas, cores, odores, sons, criar imagens. Das palavras emana uma
espécie de melodia, um ritmo que nos envolve com a natureza, com os sentimentos
e sensações do mundo ao nosso redor.
ESCREVER BEM NÃO É DIFÍCIL!
“É só começar com uma letra
maiúscula e terminar com um ponto final. No meio, coloca-se ideias”. (Pablo
Neruda)
Cada poema é um encontro, no processo em que é escrito tanto como no processo em que é lido.
Com que palavras ou que lábios
é possível estar assim tão perto do fogo
e tão perto de cada dia, das horas tumultuosas e das serenas,
tão sem peso por cima do pensamento?
Pode bem acontecer que exista tudo e isto também,
e não só uma voz de ninguém.
Onde, porém? Em que lugares reais,
tão perto que as palavras são de mais?
Agora que os deuses partiram,
e estamos, se possível, ainda mais sós,
sem forma e vazios, inocentes de nós,
como diremos ainda margens e diremos rios?
“Passagem”, de Manuel António Pina
Uma casa junto ao Vouga,
rio de água suficiente,
onde apenas se mergulha
até à cintura, a pequena horta
de Virgílio, o amor robustecido
por nenhuma esperança
e tantos livros para ler
– que desculpa vou agora dar
para não ser feliz?
“Desculpas não faltam”, de José Miguel Silva
havia tantas coisas
que eu te queria dizer
se não fosse o abismo
de te perder num afago
de te ter do outro lado
do medo à minha beira
havia tantas coisas
que eu te queria dizer
se não fosse o amor
que há noites ao teu lado
em que me dói não sei
onde é que a distância ai
“Ao lado”, de Joaquim Castro Caldas
E eu, a minha alma, terei o meu dia?
Quando é que despertarei de estar acordado?
Não sei. O sol brilha alto,
Impossível de fitar.
As estrelas pestanejam frio,
Impossíveis de contar.
O coração pulsa alheio,
Impossível de escutar.
Quando é que passará este drama sem teatro,
Ou este teatro sem drama,
E recolherei a casa?
Onde? Como? Quando?
Gato que me fitas com olhos de vida, que tens lá no fundo?
É esse! É esse!
Esse mandará como Josué parar o sol e eu acordarei;
E então será dia.
Sorri, dormindo, minha alma!
Sorri, minha alma, será dia!
“Magnificat” de Álvaro de Campos
E eu as oiço brincar,
Qualquer coisa em minha alma
Começa a se alegrar.
E toda aquela infância
Que não tive me vem,
Numa onda de alegria
Que não foi de ninguém.
Se quem fui é enigma,
E quem serei visão,
Quem sou ao menos sinta
Isto no coração.
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